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alberto lapa

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quarta-feira, 20 de junho de 2007

CLANDESTINIDADE E PERAMBULAÇÃO DE FORA PARA DENTRO OU AO INVÉS

Horas de paz, as da madrugada. E no entanto desinquietas, hesitantes, assombradas de susto ante fantasmas. Breu ainda. Porque tem lugar à mesa garantido, o breu é componente obrigatório do repasto a propor fora de horas. De paz ou de guerra, tanto faz. Conservem-se apagadas todas as lâmpadas, que os demais componentes, desde o sarcasmo aos requebros da melancolia fadista, dos melindres de luto antigo à farsa da paixão pela morte, estão a cair por aí, não tarda. E avive-se o fogo, com sopros dirigidos ao coração da borralha, para que a mornidão se mantenha e recuse a viabilidade ao tremelique dos dentes.
Quaisquer versos estarão a mais neste contexto. O silêncio é regra de ouro. Ou, enfatizando a olho, não tem preço. Melhor que a poesia dos desenganados, é a mudez cauterizadora daqueles que do engano tiram sustento. E é deles a receita, a fórmula oculta do embuste. Tal como o trato, o apuro, o tempo. E ainda a exaltação do feito através da prova, se houver quem, para tanto, tenha a coragem de ter ouvidos lavados e habituados, mal ou bem, a não ter opinião.
Sirva-se à temperatura ambiente, seja qual for. Polar ou tórrida, o que importa, neste caso, é o gargarejo instintivo que dê lugar ao vómito e à libertação pia abaixo do que fique por dizer.
Quanto ao que está dito, está dito. Que o julgue a história.

sábado, 2 de junho de 2007

PONTO DE ORDEM À MESA DE ESCALPELIZAR O CADÁVER QUE NOS TRAZ DE PÉ

Nada haverá de mais degradante, que sentir-se vergonha de si próprio por actos outrora cometidos. Ou então, ao invés, porque a coragem de os cometer não chegou sequer a entrar na arca, quedando-se em terra e de vez se perdendo por afogamento. E não é de arrependimento que se trata aqui. Nem de remorso. É mesmo da vergonha experimentada, hoje, quando o fosso da memória, ao mais leve seixo nele caído, deixa vir ao de cima a borra fétida que por lá sabemos acamada, no fundo, e juraremos desconhecer, se inquiridos.
Connosco por dentro deles, factos houve que, se em outrem, por nós e de imediato se saberiam vituperados, embandeirados nos dentes como escárnio, renegados como lepra que de perto nos acene. E todavia não os renegamos, não os embandeiramos, não os vituperamos, quando ao espelho remelento da manhã, num silêncio de mil bocas aos berros a entupir-nos os ouvidos, nos perguntamos pelo nosso paradeiro, tendo em devida conta as contas feitas, as promessas tomadas como pontos de passagem obrigatória, os projectos juvenis cuja funcionalidade não dependeria senão da pureza que os pariu.
O espelho, esse falacioso, ainda nos há-de matar.