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alberto lapa

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quinta-feira, 20 de março de 2008

O TEMPO QUE FAZ OU O QUE SE DESCONTA A QUEM CONTE HISTÓRIAS?

Olha-me esse relógio. Estás a ver que horas já são? Mas ainda não há cinco minutos, muito enervado, tu vociferavas de dentro para dentro contra a lerdice de caracol dos ponteiros. Agora, calcada e recalcada a hora, todo te abespinhas, também só nas vísceras do cavername, pelo não cumprimento por outrem do que antes teríeis ajustado. O tempo, esse obscuro ente que ninguém sonha quem seja, misto de ludíbrio e de resignação conivente, é uma merda. E tu também. E eu.

quarta-feira, 5 de março de 2008

ORAÇÃO A TER EM CONTA EM VEZ DAS REZAS REZADAS AO ROGAR CHUVA OU SEQUEIRO

Na pedreira da inspiração não se obtêm blocos perfeitos. Aos calhaus dela arrancados, ainda que seja a coices de dinamite, é necessário dar forma de gente com vida. Seja qual for, rígido ou flácido, o pedestal de amostragem, a erigir entre flores e arvoredo. E não se tome por nítida e franca, no imediato, a leitura da obra exposta. Apesar do exagero no polimento último. Apesar da temeridade no tema em pose petrificada até bem depois do fim das mãos parideiras. Apesar do aplauso que os próprios olhos se exijam, sem subornos nem pedincha, em proporção à ausência de olhos de outrem e seus reflexos na água que os habite e dimensione, aos primeiros, a contento.
Muitas vezes, que é quase sempre, o produto final pouco ou nada tem a ver com o arrojo do esboço mental adiantado. Outros requebros no desbaste obrigatório das arestas iniciais, novos impulsos no assédio à imobilidade expectante, múltiplas imagens guardadas desde o desvão de uma infância desperdiçada entre muralhas de adobe, tudo se torna material palpável, moldável e sensível aos desígnios e arbitrariedades do escultor contratado por si mesmo, o único a prestar-se contas pela inconstância do escopro, quiçá já rombo de mais.
Ninguém se afirme incólume após o zumbido do silêncio em volta de quanto houver escrito ou dito. Ninguém se amofine, também, porque haja quem lhe não entenda o intento, quem lhe não saiba ler o âmago anterior ao texto, seja ele de barro, pedra, ferro, bronze ou carne viva, ao vivo, a sangrar deveras. Ninguém se poupe ao escárnio de passear a sua própria nudez na via pública, em exclusivo, como indumentária de gala, fardamenta de trabalho ou mortalha de atempada devolução aos torrões da fabricação original. Ninguém se perca dos seus passos ao seguir no encalço de outros passos, tão erráticos uns como outros, quando o importante seja só não pactuar com a quietude de palavras e atitudes, não fazer coro com a mudez do cinzel, não dar cobertura e mantimentos à vilania instalada.
Assim na terra como no céu.