DA LEI DAS COMPENSAÇÕES EM TEMPOS DE ESCASSEZ INTEIRA

Os cactos são uns gordos que em plena penúria sobrevivem e se dão à jactância de armazenar no bandulho o que a outros tanto falta. E ainda se permitem o descaramento de eriçar puas mortíferas, zelosos contra quantos quarenta ladrões do deserto lhes surripiem o sumo. Mas terão os cactos a mínima culpa de viver onde estar vivo nem será mais que um sortilégio que alguns crêem miraculoso?
E não dão eles flores tão belas, que nem a morte apetece?

(fotografia “roubada” ao Dias com Árvores)

SINOPSE DA TEORIA DE QUE É DE PLÁSTICO A FILOSOFIA MODERNA

Sendo de material semelhante, as duas caixas tinham formato igual e também teriam igual capacidade. Uma delas, vermelha, tinha a tampa branca. A outra, branca, tinha a tampa vermelha. Não se tornaria mais fácil encontrá-las e designá-las, trocando-lhes as respectivas tampas e passando a ter, sem quaisquer equívocos, apenas uma caixa vermelha e uma caixa branca? Ou seria preferível a manutenção dessa diferença ao nível da cobertura, observando-as cá de cima, ou ao nível do bojo, espreitando ao contrário?
De igual maneira haverá pessoas assim, cuja tampa não corresponde a quem saibamos residir lá por debaixo dela.
(Saia um espelho e um pedregulho a sério para o escaqueirar).

MAIS CEDO AINDA QUE O SOL CONDENADO A SALTAR DA CAMA

O bocejo pode ser uma ponte lançada entre o nada e o coisa nenhuma do sono a mais ou a menos. Que o diga quem se abalance a atravessar o abismo da insónia para um e outro lado. O mais certo é não chegar a lugar algum, ou cair pelo caminho, o que tanto valerá em qualquer das situações a não experimentar por agora.
Levante-se, então, um monumento ao bocejo, sinal fatal do tempo em marcha sabe-se lá para onde. Talvez uma bocarra escancarada, até aos gorgomilos muito além do avesso, esculpida em lava vulcânica ainda ao rubro e a escorrer. Que quem lhe tocar se queime. Só assim se terá noção do que importe perenizar ao falar de arte. Seja qual for. E quem vier atrás do último que feche a porta.
O pior é o mau hálito.

Da Conspirata "D'ANÇÃ MALSÃ À TARDINHA"

XX

irmão abrunheiro

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ABRUNHEIRO-COIMBRA/2006

pastel e lápis-aguarela s/ papel - 29,7 x 42 (A3)

colecção do pintor