ENTRE SINOS E SINETAS E OUTRAS TRETAS MENTIROSAS

Que me perdoe, se quiser, quem não pense como eu, mas não resisto à tentação de assinalar, como única nota positiva que este ano me foi dado vislumbrar em toda a farsa natalícia ora em acção de despejo, o facto de minha querida mulher ter comprado papel higiénico onde se lê “merry christmas”, “god jul”, “joyeux noël”, “weihnachten”, entre outras linguaradas cristãs, nanja a nossa – vá-se lá saber porquê.
Enquanto durar o papel, tenho a certeza, sentir-me-ei arrebatado aos céus nesses tão contorcidos como degradantes momentos de proceder à alimpadura do cais. É nele que funciona, a tempo inteiro, o posto de emissão de mensagens nataleiras e afins ou derivantes.

ATÉ QUE AS TEIAS DE ARANHA DO SACRÁRIO SE FAÇAM UM DIA DE POLIPROPILENO

Hoje amanheceu um sol murcho, envergonhado entre nuvens gordas, nédias, tosando a escassez da pastagem celestial. Pode ser que lá para o fim da tarde o cenário mude e anoiteça, por exemplo.
Não será milagre, com toda a certeza.
A era dos milagres definhou com o invento do computador e finou-se com a modernice deste simulacro de navegação– assim se lhe chamou desde o óvulo perfurado–, ainda que só à vista da costa, porque muito há quem não saiba nadar ou de todo ignore a leitura das estrelas.
Não terão já endereço electrónico os escritórios do céu?