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alberto lapa

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

À GUISA DE CAVAQUEIRA EM CURSO ENTRE O RANHO DO PALATO E O DAS FOSSAS NASAIS

Sinto-me bem, muito obrigado. Não tem de quê. É sempre agradável ver e ouvir alguém preocupar-se connosco. Não parece ser caso para tanta ênfase. Gestos e palavras há que, não indo além da trivialidade, conseguem dizer mais de nós que o mais elaborado dos discursos de apresentação. A saudação entre pessoas que se cruzam na rua, ainda que desconhecidas, sempre foi um hábito são. E continua a sê-lo nas zonas rurais. Mas tem vindo a perder-se e a ser substituído por uma moderna versão de indiferença corrosiva, próxima do escárnio, onde a mudez quase se faz ouvir pela surdez, e aos gritos. Esse é um modo simpático, ou cúmplice, de contemporizar e acabar na aceitação total do actual estado de coisas. Talvez seja, talvez, porque há imperativos cujo peso na balança inutiliza qualquer outro modo de contemplar o mundo em volta de nós. É uma inequívoca realidade que, à nascença, todos nós somos iguais em egoísmo. Pois, e todos seremos diferentes na escolha do antídoto e na posologia aconselhável, começando pela importância, de vulto ou nem tanto assim, que tenhamos imputado à maleita congénita, se lhe imputámos alguma. É de facto preocupante essa contemporânea propensão para a fuga ao relacionamento entre cidadãos no quotidiano, nas tertúlias, nas divagações espontâneas ao ar livre, com a fantasmagoria da misantropia final a voejar lá no alto, pairando sobre potenciais partidários a convencer. Para não falar do isolamento a dois, ou da solidão acompanhada, como é usual definir tão desconforme como vulgar calamidade, de mútuo consentimento e recíproca oferenda na maior parte das vezes. Quando os cientistas quiserem, um dia, estabelecer uma tábua valorativa da relação entre cônjuges num determinado momento, bastará que contem e registem o número decrescente das palavras pronunciadas por ambos durante as também cada vez menos horas comungadas em cada dia. E dias há, e não poucos, quando a senda segue já pela floresta sem hipóteses de retorno, em que uma das mãos terá mais dedos que os necessários à contagem. E beijos trocados? Nem com os olhos. Nem apenas com os olhos em acidental encontro ao deitar e ao abandonar o ringue, onde é o empate o mais repetido, e justo, dos resultados.
Este mundo clamam os arúspices vai acabar à marrada.