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alberto lapa

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CARREGADOR DE PIANOS SERRA ACIMA E DEMAIS UTOPIAS DE SOPRO SERRA ABAIXO OU CALCETEIRO DE NUVENS ENQUANTO LUZ HOUVER E HOUVER PERNAS A ABRIR

sábado, 24 de junho de 2006

QUEM COM FERROS MATA HÁ-DE MORRER À MARRADA

Não gosto de touros. Ou melhor, não gosto de touradas. Nunca gostei. E sempre que me vejo confrontado, por grande azar meu e apenas na arena televisiva, com alguns recortes desse tão triste mas dito nobre espectáculo, é fatal que torça pelo touro. E embora saiba que estou a torcer pelo vencido, todo eu me regalo sempre que o vejo em posição de vencedor, desmontando e fazendo gatinhar na miséria do pó toda a prosápia de cavaleiros e cavalos, ou pegando pelo cu dos calções o resvés suicida dos espadas, ou devolvendo à trincheira por cima das nuvens a congénita subalternidade dos bandarilheiros, ou enrolando num molho espalhafatoso de coletes esfarrapados e barretes e pernas e braços sem dono certo a petulância apeada dos forcados.
Reconheço a beleza e a elegância dos cavalos, assim como o valor de quem no anonimato dos bastidores para a arte os prepare, cavaleiro ou moço de estrebaria condenado a nunca se atrever para lá da porta. E também me é dado considerar a temeridade bailarina dos toureiros no milimétrico espaço entre os suores das duas bestas em luta. E, de sobremaneira, admirar a valentia daquele que, de meia praça, cita a desinteligência do touro e entre os cornos dele se aguenta, até que os demais, em grande maioria, se lhe agarrem e o obriguem a quedar-se. Reconheço isso tudo. Mas passo muito bem sem tal demonstração de pobreza mental de que tantos se alimentam. Abomino a tourada.
E confesso que nem sei se abomino mais a crueldade, com requintes de tortura, infligida ao pobre brutamontes em palco, para gozo boçal de algumas centenas de cristãos, quase todos, se aquela degradante exposição das classes em cena, com a jactância do cavaleiro à cabeça e vindo por aí abaixo até ao peão de brega, que apanha os chapéus do chão e logo corre a levá-los a sua senhoria, para que sua senhoria, em gesto largo, com sobranceria de príncipe anão num país de pigmeus, os devolva à bancada.
Valerá a pena avançar o que penso daqueles que defendem os touros de morte em Portugal, ou dos que, por cobardia política, deram o seu aval à excepção ou excepções que a médio prazo se multiplicarão e tornarão regra? Não vale a pena. Basta-me o título lá em cima.

domingo, 18 de junho de 2006

EU, SENHOR E DONO, DETERMINO E MANDO PUBLICAR

Com a imediata anuência de todos os poderes consagrados, de todas as forças vivas, e até da população em geral – ainda que não ouvida –, el-rei, a partir da presente data, tendo como objectivo uma contínua emancipação da sua imagem e do seu exemplo, ímpar, como entidade representativa de todos e de tudo o que sobre este planeta aconteça, determina que todo o tempo de antena de todos os canais televisivos, bem como o de todas as emissoras radiofónicas, públicas e privadas, se veja desde já convertido num permanente noticiário dos passos de sua majestade ao longo do dia; e que todos os jornais se tornem eco através do globo de tudo o que acerca de sua alteza se afirme; e que todos os cartazes de rua apontem nesse mesmo sentido; e que todas as formas possíveis de propaganda se transformem em complemento activo das já aqui pronunciadas. E, ainda, que tudo o que antes seria material de notícia (tragédias naturais e de artifício, guerras de bolso ou genocídios, sequestro de crianças e sucedânea violação, falências subsidiadas ou fingidas, incumprimento das promessas governativas e sua inapelável substituição por outras promessas, sinistralidade nas estradas e nos gabinetes, corrupção encoberta sob a nomeação para novos poleiros de não menor carga na mercantilagem pública), seja retirado do horário nobre ou desapareça de vez, sem rasto, para que a consciência nacional se acredite indómita e altaneira prevaleça.

A bem da nação,
el-rei futebol.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

DA SIMILITUDE E DA SUA NEGAÇÃO

Chamam-lhe Antes. E tem um irmão mais novo chamado Após. Após o aparecimento em cena do irmão – um actor tão prometedor como indefinido, que quase ninguém, ainda hoje, parece conhecer bem, a não ser de ouvir falar dele, e mal –, mais nenhum nasceu lá em casa. Ambos filhos de pai incógnito, e disso não tendo vergonha, também mal souberam da mãe. Foram criados por aí, ao deus-dará do instinto de sobrevivência, como se se soubessem predestinados a atingir um lugar destacado na história dos homens de boa vontade na terra, essa cambada de infelizes que alguém rotulou assim.
Antes e Após são parecidos. Tão parecidos, que há quem os confunda e o nome lhes troque. Porém, só olhando por fora é que se parecem. Diferentes são eles, por exemplo, no modo de andar: o mais novo dos dois, sempre a olhar para a frente, de pescoço esticado; o outro, pelo contrário, andando às arrecuas, e não poucas vezes acusando o irmão de não querer ensiná-lo a andar para diante. Aí, o mais novo, o Após, ri-se do Antes, bem mais velho e mais trôpego, inclusive, na maneira como age e como pensa: ao retardador.
Faltará contar que o Após nasceu no dia em que o Antes, apanhado de surpresa pela vinda do mano, quase ia morrendo de susto. que, por azar do Após, e de nós, não morreu.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

AO "BRANCO SOBRE BRANCO" DO MALEVITCH

KASIMIR SEVERINOVITCH MALEVITCH
(1878 - 1935)

O branco é a solução do espectro. Dos pigmentos ou da luz do sol. Seja na tela, seja no papel. Não há como fugir e negar-lhe o beijo. Em branco é a vida, branca é a morte, branco há-de ser o além. Branca era a virgindade de Maria, a mentirosa. E branco era o filho, claro. E se ele fosse preto? Teria direito a estar no presépio, entre o burro e a vaca? Teria subido à cena da cruz entre ladrões? Estaria hoje no altar?
Em Coimbra e aos 6 de Junho de 2006

sexta-feira, 2 de junho de 2006

"DISCURSO CRÍTICO"- I (XEQUE À RAINHA)

ABRUNHEIRO - COIMBRA/1982
(Óleo s/ tela - 50 x 70)
Colecção Particular