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CARREGADOR DE PIANOS SERRA ACIMA E DEMAIS UTOPIAS DE SOPRO SERRA ABAIXO OU CALCETEIRO DE NUVENS ENQUANTO LUZ HOUVER E HOUVER PERNAS A ABRIR

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

COM UM ATRASO DE ALGUNS DIAS PORQUE A REGRA É NÃO RASGAR NADA POR ORA

Durante toda a noite o vento uivou, chiou, gritou, gemeu, barafustou contra tudo e contra todos. Contra si próprio, inclusive. Desfraldada a manhã, entretanto, nenhuma zanga havia a assinalar na fisionomia das árvores, quase sempre as maiores vítimas de desacatos a que são alheias e de que não sabem escapar. Também tem inconvenientes ter tão profundas raízes, ser tão agarrado ao chão, viver tão dependente do alimento, dia e noite, a toda a hora. Mas vale a pena viver quando e enquanto a luz se proclamar sustentáculo maior da manutenção de pé, ainda que isso obrigue à fixação num mesmo lugar a vida inteira, e logo sem hipóteses de fuga, havendo ameaças a pairar.
Aproveite-se a luminosidade reinante para redescobrir o espectro de cores daquilo que seja importante interpretar como objectivo último em mente, como trajectória de garantida consecução, como material moldável imposto à laia de repto e de prémio, perca-se ou não. Não é muito frequente usufruir de tão nítido brilho ambiental, como verniz dado à trincha para dissimulação do que a indecisão ponha em risco, quando o que mais conte seja a solidez interior, a aventura devotada a não condescender ante o acaso desculpabilizante, a implementação progressiva da própria vontade como arma de arremesso a ninguém e a toda a gente.
Tarde será para que se reponderem atitudes não tomadas, quando no ar se prenunciava o alvor que as afirmaria dignas de lembrança após eclosão. E é cedo ainda para com tal renúncia atapetar de negações e traumas todo o itinerário em falta até à berma de lá do fim. O rio não leva caudal que acobarde quem fora dele o dimensione. E quem a ele estiver condenado, ou se lhe oferecer por prosápia, que vá pela ponte ou de barco. Porque irá rio abaixo, irá. Queira ou não queira.
Escancarem-se as janelas ao futuro, que o passado, como se percebe, nem presente chegará a ser. Seja qual for a velocidade e a gritaria do vento, esse ente obscuro e anónimo como por vezes convém, embora formado por gases de tão volátil expressão, que maior só a de sonhos juvenis acalentados em já serôdia conjuntura vivencial.