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alberto lapa

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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

E LÁ VÃO CINCO MILÉNIOS EMPENHADOS EM FAZER BROTAR ÁGUA NO DESERTO

Será assim uma espécie de masturbação. Porque, no fundo, é mesmo de um gozo íntimo que se trata. Uma paixão juvenil, capaz de ignorar cãs, calvas e próteses, e passível de se aguentar encavalitada no selim até ao tombo abaixo das urtigas. Um jogo de emoções e de sensações acometidas de fora para dentro, o que significa através do fingimento da mentira, enquanto verdade genuína em suspensão de fluidos sem fórmula autorizada nem rótulo. Uma certa forma de se estar na vida, sujeita às condicionantes de sempre, determinadas pelo deve e haver sensitivo a requerer caução sem limites contabilizáveis. Um exercício de sobrevivência, também, tomando por bitola a fraqueira dos lucros obtidos como alimento, vulgo forragem para o gado de pastoreio nos dias mais entroviscados e nos outros. Um estilo muito peculiar de ler e acompanhar a rota dos astros de olhos fechados, ainda, repintando no tecto e nas paredes do quarto, às escuras, um firmamento prenhe de ideias de quantas grandezas se reconheçam.
Gozo íntimo, por se saber experimentado, primeiro, lá nas entranhas de mais funda negridão, no porão cujo horizonte é inferior à linha de água, no cavername do instinto a sustentar a razão. O masturbador a sós com o próprio imaginário, em cumplicidade repartida, em êxtase final a dividir pelos dois que são um só.
Paixão juvenil, porque desde o febrão reprodutor do acne condenada a não morrer senão quando morra quem dela sofre os ardores. Prova máxima de pundonor, imune à erosão temporal, à transfiguração em gelhas que nem roteiro de estradas, e mesmo ao anátema da possível desmemória progressiva, em proporção ao desgaste de outras eras, a compasso metronómico de bengala sem retorno. E ei-lo, outra vez na berlinda, o masturbador, a enfatizar o assédio a si próprio, sem idade apreensível que o sentencie ou sequer julgue.
Jogo emotivo e de sensações exacerbadas ao invés, porque se vale da reflexão multiplicada por espelhos até aos confins cósmicos, dando a ver e negando conforme o pêndulo oscile entre ficção e realidade, em dúbia alternância, no entanto. O mais comum é que se sobreponham, se confundam uma na outra, se substituam ou invertam. E lá vão, por aí afora, de mãos dadas, em desafio a si mesmas. Já o protagonista, o tal que se sabe, avesso aos pressupostos de harmonia em conjuntura, mantém-se heróico no leme que a si o devolverá.
Uma específica opção no modo de consumir a vida, sob as condições do costume, prescritas e encarreiradas pela lei do mais forte? São os sentidos, apenas, a exigir atenção e correlativos, porque daí depende a prossecução dos projectos encetados, ou a encetar, com garantia de poder contemplá-los de pé a breve prazo. Não raras vezes matreiro e comprometedor, o entusiasmo de se adivinhar perto do fim dá rédea solta ao masturbador em campo, herói incógnito ainda.
Corajoso e empenhado exercício de por que meios sobreviver à onda ascendente de custos, que não de ganhos havidos ou sequer vistos ao longe, eis como dói e mói a desesperança de encontrar olhos tocados pelo acaso de algum brilho, de lamparina que seja. Estará lá o brilho, estará. Pasmo de olhos, é que não. No tocante ao masturbador por aí escondido às claras, prepúcio abaixo e acima ou atrás e adiante, todo se empolga e devota ao frenesim de remate, de língua arfante e olhos bêbedos, chegando até a levitar.
Estilo peculiar ou prosápia? Os astros, longínquos, anónimos ou com etiqueta, não iluminam tudo e todos de semelhante maneira, de onde se poderá inferir que a rota até lá é incerta, no respeitante à lisura do piso: impérvia para uns, e de algodão para outros. Que cada qual siga o rumo que mais lhe aprouver, logo que não estorve ninguém.
Será assim uma espécie de masturbação, porque, no fundo, é mesmo e da arte da escrita e do infinito gozo de escrever que aqui se trata e se especula. E já lá vão cinco mil anos.