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alberto lapa

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CARREGADOR DE PIANOS SERRA ACIMA E DEMAIS UTOPIAS DE SOPRO SERRA ABAIXO OU CALCETEIRO DE NUVENS ENQUANTO LUZ HOUVER E HOUVER PERNAS A ABRIR

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

MESMO DESCONHECENDO AS COORDENADAS ACEITAM-SE CANDIDATURAS

Num país algures a poente dos mais e apenas habitado por mentirosos, sem sequer uma excepção que lhe minimizasse a moléstia, toda a gente se pretendia e até jurava a pés juntos por quantos credos houvesse realizada na vida, com todas as dívidas pagas, com excesso de dinheiro para excessos e sem receio da velhice e sempre devotada à crença de que o mau só aos outros acontece. Mas como eram todos mentirosos, todos de todos se riam e eram, por isso, felizes.
E havia concursos, um pouco por toda a parte, espontâneos e nunca como concursos considerados, tendentes a determinar e a proclamar, entre os seus pares, o maior mentiroso do ano, por exemplo. Ou quem perenizar como o mais fino falsário da década, do século ou de toda a história. E havia apostas e óbvias campanhas, na sombra, para que um ou outro nome indicado viesse a impor-se e a ser gáudio de seus acólitos, pelo menos, quando não de toda a gente, pois que, no fim, toda a gente se arrogava a vitória conseguida na peleja.
O importante, afinal, era que o logro vingasse e ascendesse aos poleiros televisivos, radiofónicos, jornaleiros, e daqui aos olhos e ouvidos de todo o mundo entretido com semelhantes despautérios, fosse a partir dos cadeirões governantes, eleitos para seu governo, fosse à ordem dos púlpitos homiléticos por beneplácito de chancela divinal, fosse a saque dos detentores do poderio belicista, os fazedores de guerra ou de paz consoante a aposentação lhes prometa maior ou menor substrato, doa a quem doer a metralha e mazelas colaterais.
Até o primeiro-ministro (exemplo máximo, sem precisão de concurso a confirmá-lo, de trapaceiro e lacaio ao dispor de quantos gordos, à distância, manobravam os cordéis e lá faziam rodopiar os bonifrates pagantes) dava lições de como implantar, sorrindo, pantominices e tretas nos crânios descrentes, com uma desfaçatez só observável em quem se sinta seguro do terreno que pise e repise, passo a passo. Que o desemprego estava em indesmentível decréscimo, e que a balança de pagamentos já penderia para o prato de menor inconveniência, e que a nova estratégia governamental anunciada até garantiria férias no estrangeiro aos reformados —, congratulava-se o ácaro, ao estender a teia com a lambugem costumeira, fatal ao mínimo voo besuntado de crendice por parte dos demais insectos seus conterrâneos, dípteros e lepidópteros ou aproximados.
Outro pormenor curioso, e esclarecedor da clareza em débito àquela terra a poente das outras, seria o caso algo insólito de as crianças já nascerem a andar e a falar e, por consequência, a mentir e a ignorar as reprimendas dos pais, tão mentirosos como eles. Ou mais, porque há mais tempo.
Era uma vez um país de mentirosos, sem uma única excepção a atenuar a maleita, onde toda a gente se ria de toda a gente e era, por isso, feliz. Que mais importa?

sábado, 22 de dezembro de 2007

COM QUE LINHAS É USO COSER O TRAPO DE ENCOBRIR FRIOS AVULSO

A matéria-prima abunda. O problema maior é seleccioná-la e descobrir depois o mais artístico processo (simples e objectivo, sem excessos de policromia na amostragem e sem palpável escassez de profundidade na urdidura) de a devolver, já vestida a preceito para o baile, a quem nestes volteios se enrodilhe, para que o encontro aconteça e mereça ou não algum aconchego de encómios e releitura. Ora, se os factos, uma vez factos, factos serão, se nada os altera e lhes retira a incidência, só o tempo os desvanece ou os faz avivar na memória, só a memória os acrescenta ou encurta, quando não os reinventa. E a questão é que é também nos factos, latentes ou já consumados, naturais ou induzidos pela vontade, retumbantes ou resumidos ao peidinho sem mossas na ambiência, que se fundamenta e obtém, com a pureza possível, a dita matéria-prima deste gozo de escrever.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

ENSAIO JUSTIFICATIVO DO MOSQUEDO E DE SUA PIA MISSÃO

É cómodo e prático deitar mão ao tempo que faça quando se lançam os dados sobre o pano verde da escrita. Se está vento, é porque está vento; se chove, é porque a humidade impera e necessário será não esquecer o guarda-chuva; se estiver sol, manda a sageza que dele se enalteça a luz e no mesmo balanço se aproveite a claridade para varrer quaisquer sombras resistentes. E como o tempo se nos apresenta sob um infinito de alternativas, por sua vez destrinçáveis, cada qual, em tantas mais hipóteses de derivação posterior, sempre se nos impõe a tentação de olhar cá para dentro de nós, como se se tornasse regra o paralelismo do que seja fenomenologia natural e daquilo que em nós se reconheça: se nuvens no ar, nuvens haverá no semblante; se há ventanias a bramir montes arriba, turbulências semelhantes se hão-de escutar cá no âmago; se há pretidão envolvente, com ou sem estrelas legíveis, estará em causa, decerto, a cegueira de ter olhos e de só se ver o invisível.
Que tempo está hoje, afinal? Um tempo de merda, nem mais, apesar de compreensível na temporada ora em pauta, com chuviscos e aragem de notícias de nevões serranos na arreata, e neblina a empalidecer a visão e a distanciar as montanhas, ao aproximar-nos da hora de já ser noite outra vez.
Logo, tomando por bitola oficial o pressuposto no penúltimo parágrafo antes deste, que em simultâneo é o primeiro, mais atinado será largar este texto em vias aos arbítrios do tempo que faz. E porque este tempo é de merda, como se afirma no parágrafo seguinte, de merda há-de ser o texto e a disposição de quem escreve.
E quanto mais nela se mexe…