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alberto lapa

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domingo, 14 de setembro de 2008

NAS MÃOS DO VENTO OU NOS PÉS DE ALGUM PASSANTE SEM PRESSA OU SEM SAPATOS

Um tufo de relva de jardim, arredondado, no meio do carreiro. Aí dois palmos compactos de verdura, não mais, aqui propostos pelo acaso de qualquer semente vadia sob a sugestão do vento. Eis um bom motivo, na falta de outro melhor, a explorar. Mais tufos se descobririam pelas redondezas, como é compreensível, de maiores e menores dimensões, por obra de outras sementes, outras vadiagens, outras ventanias. Mas o mais premente será determinar se esta amostra de tema se mantém na sela para lá dos primeiros coices no ar. Não basta a vontade de ser para que um ente se afirme, se exponha, se justifique como matéria a trabalhar por si mesma a partir do tropeção em coisa nenhuma, como este tufo de relva de jardim, por exemplo, posto em fuga pela aragem e a ser recapturado agora. Que nunca a mão da mãe-natureza se tolha ou deixe de tolher na reconstrução da própria pele, ou verificar-se-ão fenómenos destes: até um banal tufo de erva sem dono serve de pasto ao quadrúpede que sempre existirá em nós. De que jardim terá fugido ela, a tal sementinha?
Para uma formiga, um escaravelho, um qualquer ser minúsculo entre minúsculos, isto até representaria — a verdura arredondada com dois palmos de diâmetro — um bosque privativo, um parque de merendas, um perfeito lugar de evasão e reconforto ao ar livre, isolado de tudo o que faz da vida um labirinto sem muros, sem janelas, sem portas, sem cordel condutor nem procura a dar-lhe papel na história e a requerer recompensa em conformidade. A questão de maior peso é reconhecer que os minotauros de hoje também têm asas, também voam, também declaram espírito aventureiro na bagagem. Mas de que jardim fugiu a desgraçada da semente aqui abandonada na rota, mesmo no meio do caminho, sem água a não ser de nuvens, e sem utentes que não sejam os passos de algum passante sem pressa de não ter sapatos nem onde plantar os pés?