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alberto lapa

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CARREGADOR DE PIANOS SERRA ACIMA E DEMAIS UTOPIAS DE SOPRO SERRA ABAIXO OU CALCETEIRO DE NUVENS ENQUANTO LUZ HOUVER E HOUVER PERNAS A ABRIR

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

SÓ PORQUE NO OUTONO SEMPRE NASCERAM FLORES E COR MAIS QUE MUITA

Põe uma flor na lapela, à moda antiga, e vai pela rua adiante, a passos largos, fingindo que és feliz só porque trazes uma flor na lapela e toda a gente te inveja a amplitude do sorriso, rasgado e claro como manhãs de luz sem contenção entre muros; o ar desenvolto, a manifestar-se na tamanhura dos passos, na elasticidade do balanço por eles mostrado à evidência, na convicção com que se arriscam na demanda do que nem lhes cumpra arriscar; a expressão voluntariosa de quem sempre em si teve confiança e confiou, sem penhores nem dúvidas; a luminosidade e a clarividência na forma de olhar e de medir a distância até à utopia do horizonte; a tranquilidade não desatenta e vinda lá de dentro mais dentro; a musicalidade transparente a partir dos mais simples gestos, transportada em mãos pela alegria de viver e de ainda saber caminhar de corpo na vertical, aprumado, resoluto, firme, como se das alturas se desprendessem pétalas e gorjeio de violinos, e logo nos pés resultasse a apetência de dançar, dançar, dançar até ser dia outra vez, até de novo ser tempo de pôr uma flor na lapela, à moda antiga, e avançar pela rua adiante, a passos largos, fingindo que se é feliz.
Qual a flor? Qualquer flor te servirá, desde que morda.

(Fotografia “roubada” ao blog DIAS COM ÁRVORES)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

VULGO TERAPIA TEMPERAMENTAL A ACABAR EM PASTORÍCIA SEM PRADO

Está uma manhã daquelas de andar às compras, sem uma moeda nos bolsos, e descobrir que afinal nada apetece comprar. Todas as ruas se parecem com as ruas todas. E todas as montras são de igual maneira enganosas na oferta do tudo sem nada dentro, porquanto o que mais importa é vender ao corpo o que nem à alma aproveite. Reinvente-se todo o universo das fábulas, desde Esopo e Fedro aos La Fontaine de laboratório ora no prelo, e nunca a outra das uvas a balançar sobre a zorra deixará de fundamentar inconvicções. A verdura declarada por desculpa oficial nunca prestou para comer, quer estivesse à mão dos olhos quer das mãos mesmo, sem escada nem apetite de sobra posto ao dispor de uma eventual flatulência peidorreira. Haja a quem sirva o produto, que a frescura é garantida —, diz o panfleto aos passantes denunciados pelos dedos com feitio de alicate no nariz. Na outra face do planeta, por esta hora, há-de ser noite já.
Vai uma tarde morrinhenta, peganhenta, engordurada. Ou idêntica a qualquer dessas de que nem se chega a dar conta como dia em queda livre no charco. Rio a desaguar sem nascente nem leito e percurso de afirmação insinuante sob a obediência das margens, e logo maré sem retorno à liça, sem marulho de vagas vivas, sem pescarias mentirosas, sem sequer sal. Indúvia rudimentar improvisada, com lã mal cardada de tão grossa desde as cajadadas sodómicas no pasto. E da morrinha pegajosa e gorda até ao não almoço à hora certa, foi um sonhar vê-lo à frente sem o cheirar, se a tanto obriga a dieta terapêutica de bolsos nus, esburacados pela busca, num arrepio. Que horas serão agora na outra metade do mundo? O dia nasce, é claro, mas só por lá.
Que a noite caia, ou ascenda, e se faça ouvir nos ecos. O silêncio é um gigante cuja sonolência engana. Só quem morre o sabe acordar de vez e lá muito dentro dele fingir que dorme. Será que lá, nos confins, não brilha o sol, magma que seja em fusão no imo?