SÓ PORQUE NO OUTONO SEMPRE NASCERAM FLORES E COR MAIS QUE MUITA
Põe uma flor na lapela, à moda antiga, e vai pela rua adiante, a passos largos, fingindo que és feliz só porque trazes uma flor na lapela e toda a gente te inveja a amplitude do sorriso, rasgado e claro como manhãs de luz sem contenção entre muros; o ar desenvolto, a manifestar-se na tamanhura dos passos, na elasticidade do balanço por eles mostrado à evidência, na convicção com que se arriscam na demanda do que nem lhes cumpra arriscar; a expressão voluntariosa de quem sempre em si teve confiança e confiou, sem penhores nem dúvidas; a luminosidade e a clarividência na forma de olhar e de medir a distância até à utopia do horizonte; a tranquilidade não desatenta e vinda lá de dentro mais dentro; a musicalidade transparente a partir dos mais simples gestos, transportada em mãos pela alegria de viver e de ainda saber caminhar de corpo na vertical, aprumado, resoluto, firme, como se das alturas se desprendessem pétalas e gorjeio de violinos, e logo nos pés resultasse a apetência de dançar, dançar, dançar até ser dia outra vez, até de novo ser tempo de pôr uma flor na lapela, à moda antiga, e avançar pela rua adiante, a passos largos, fingindo que se é feliz.
Qual a flor? Qualquer flor te servirá, desde que morda.
Qual a flor? Qualquer flor te servirá, desde que morda.
(Fotografia “roubada” ao blog DIAS COM ÁRVORES)