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alberto lapa

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segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

DISCORRÊNCIAS À TRANSPARÊNCIA DO AR RESPIRÁVEL E A PAGAR NÃO TARDA NADA

Nas cidades pequenas nunca acontecerá nada de importante, porque a importância dos acontecimentos, se se exceptuarem aqueles casos em que a bitola rebente, é relativa e proporcional à dimensão dos lugares onde eles se façam notícia. Terramotos? Vá que não vá. Inundações e avalanchas e mortandade mensurável aos milhares? Está bem, pronto, pode passar, mas depressa. Um concerto comemorativo dos cem anos da banda filarmónica local? Nem sequer um sopro de tuba. Mas quão importante é o que acontece em qualquer cidade cuja tamanhura nem valha a escassez do pingo de tinta no mapa.
Numa cidade minúscula não há segredos que como tal se mantenham por muitos dias. Toda a gente conhece toda a gente. Toda a gente sabe o que se perspectivará antes do evento eclodir como tema obrigatório de conversa. Morre gente, faz-se gente, gente nasce. Compra-se carro, a estrear ou artrítico, a pronto ou entre sufocos mensais. Perdem-se empregos, ganham-se parceiros para a batota no parque. Põe-se a casa à venda para ir de férias sem regresso contratado, ou sem argumentos que reaprumem a mentirola anterior. Ama-se, mente-se, trai-se. Dá-se e tira-se com semelhante voluntariedade. Invadem-se intimidades por quase vício congénito. Rouba-se e impinge-se o roubo a quem se haja roubado. Instila-se veneno e insinua-se a ferradela com certificado de genuinidade a afixar no pelourinho da praça a meio da urbe. Faz-se o que se faz, afinal, embora em escala menor, noutra qualquer cidade de qualquer envergadura, seja capital ou tão-só subsidiária da obesidade governante nela instalada.
Apesar de tudo, antes assim. Até o ar é outro, por ora. E outros hão-de ser sempre os milhões de estrelas a tremeluzir num céu ali tão à mão de quem nas mãos tenha olhos e saiba manusear as ideias.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

COM MILHARES DE MIGALHAS SE OBTERIA UM PÃO OU DOIS

Deverá ter tantos milénios de existência a invenção da moeda como a invenção do mealheiro. Esta velha habituação de guardar os trocos do dia a olhar para o futuro, não sendo tão-só um gesto de previdência, é também um vício. Vício que trará ao de cima a nossa intranquilidade, para não dizer desconfiança, em relação ao que de nós somos capazes de pensar e acreditar. Os parcos cobres guardados todos os dias numa lata de feijões, ou num porco de faiança, nunca chegarão a pesar mais que o pesadume da miséria que no-los fez meter ranhura abaixo, qual garnizé a debicar areias com algum grão à mistura. Mas surpreendem, por vezes. E até insinuam, num tique instantâneo que seja, uma ilusão de riqueza em dimensão microscópica.
Mais rico é sonhar ser rico, que a pobreza de nem ao sonho chegar.