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sábado, 24 de junho de 2006

QUEM COM FERROS MATA HÁ-DE MORRER À MARRADA

Não gosto de touros. Ou melhor, não gosto de touradas. Nunca gostei. E sempre que me vejo confrontado, por grande azar meu e apenas na arena televisiva, com alguns recortes desse tão triste mas dito nobre espectáculo, é fatal que torça pelo touro. E embora saiba que estou a torcer pelo vencido, todo eu me regalo sempre que o vejo em posição de vencedor, desmontando e fazendo gatinhar na miséria do pó toda a prosápia de cavaleiros e cavalos, ou pegando pelo cu dos calções o resvés suicida dos espadas, ou devolvendo à trincheira por cima das nuvens a congénita subalternidade dos bandarilheiros, ou enrolando num molho espalhafatoso de coletes esfarrapados e barretes e pernas e braços sem dono certo a petulância apeada dos forcados.
Reconheço a beleza e a elegância dos cavalos, assim como o valor de quem no anonimato dos bastidores para a arte os prepare, cavaleiro ou moço de estrebaria condenado a nunca se atrever para lá da porta. E também me é dado considerar a temeridade bailarina dos toureiros no milimétrico espaço entre os suores das duas bestas em luta. E, de sobremaneira, admirar a valentia daquele que, de meia praça, cita a desinteligência do touro e entre os cornos dele se aguenta, até que os demais, em grande maioria, se lhe agarrem e o obriguem a quedar-se. Reconheço isso tudo. Mas passo muito bem sem tal demonstração de pobreza mental de que tantos se alimentam. Abomino a tourada.
E confesso que nem sei se abomino mais a crueldade, com requintes de tortura, infligida ao pobre brutamontes em palco, para gozo boçal de algumas centenas de cristãos, quase todos, se aquela degradante exposição das classes em cena, com a jactância do cavaleiro à cabeça e vindo por aí abaixo até ao peão de brega, que apanha os chapéus do chão e logo corre a levá-los a sua senhoria, para que sua senhoria, em gesto largo, com sobranceria de príncipe anão num país de pigmeus, os devolva à bancada.
Valerá a pena avançar o que penso daqueles que defendem os touros de morte em Portugal, ou dos que, por cobardia política, deram o seu aval à excepção ou excepções que a médio prazo se multiplicarão e tornarão regra? Não vale a pena. Basta-me o título lá em cima.