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sábado, 2 de junho de 2007

PONTO DE ORDEM À MESA DE ESCALPELIZAR O CADÁVER QUE NOS TRAZ DE PÉ

Nada haverá de mais degradante, que sentir-se vergonha de si próprio por actos outrora cometidos. Ou então, ao invés, porque a coragem de os cometer não chegou sequer a entrar na arca, quedando-se em terra e de vez se perdendo por afogamento. E não é de arrependimento que se trata aqui. Nem de remorso. É mesmo da vergonha experimentada, hoje, quando o fosso da memória, ao mais leve seixo nele caído, deixa vir ao de cima a borra fétida que por lá sabemos acamada, no fundo, e juraremos desconhecer, se inquiridos.
Connosco por dentro deles, factos houve que, se em outrem, por nós e de imediato se saberiam vituperados, embandeirados nos dentes como escárnio, renegados como lepra que de perto nos acene. E todavia não os renegamos, não os embandeiramos, não os vituperamos, quando ao espelho remelento da manhã, num silêncio de mil bocas aos berros a entupir-nos os ouvidos, nos perguntamos pelo nosso paradeiro, tendo em devida conta as contas feitas, as promessas tomadas como pontos de passagem obrigatória, os projectos juvenis cuja funcionalidade não dependeria senão da pureza que os pariu.
O espelho, esse falacioso, ainda nos há-de matar.