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quarta-feira, 9 de agosto de 2006

AUDITORIA INTRAVASCULAR POR ASSUNÇÃO VOLUNTÁRIA

Só hoje me apercebi―e já lá vai uma vida inteira mal gasta a não me aperceber de tantas coisas importantes―daquele fragor contínuo que se escuta quando o vento atravessa a ramaria de um pinhal. Lembra um comboio remoto a passar num túnel. Ou o mar remansoso a certa distância de nele molhar os pés. Ou um avião incógnito sobre nuvens altas de mais para que dele temamos as bombas a tempo. Ou a nossa nudez interior, os nós do imo e a desinquietude das células cerebrais quando a mudez da noite no-las dá a ouvir.
Pude ouvi-lo, esse fragor, hoje de manhã. Perto, havia um pinhal. E o vento via-se, não se ouvia apenas, quando soprava. E ouvi o comboio que nunca mais acabava de passar. E ouvi o mar pachorrento que se espraiava aos meus pés e os não molhava. E ouvi o avião assassino e as ameaças de me fazer calar a breve prazo, tal como vem calando as crianças palestinas e suas mães e avós.
Só não me soube ouvir a nudez íntima. Talvez logo à noite, quando o fragor da ventania no pinhal me der a conhecer tantas outras coisas importantes e de que eu nunca, até hoje, me dei conta, como a de ter uma vida inteira mal gasta por não me aperceber senão de mim.