BORRASCA NA INVENTIVA SOB CAUÇÃO DA SECURA
Um pingo na cabeça, outro pingo num ombro, outro ainda nos óculos, e aí está uma chuvada súbita, não de todo imprevisível neste dia que amanheceu soalheiro, mas com demasia de electricidade no ar. Vê-se na mantilha cinzenta que encobre os últimos montes. Ou nesta aragem quente e grossa, talvez oriunda dos cerros castelhanos, que em fio de suor contínuo nos transforma. Julho é assim mesmo. Nada está além do que será normal nesta época do ano. E se a chuva não vier tocada a golpes selvagens de ventania com granizo, até poderá ser benévola para os bebedores, aumentando-lhes o produto a provar lá mais para os meados de Novembro, com as castanhas. Saia então essa trovoada, que a terra, ao rubro de tão vergastada pelo sol, dir-se-á meio morta de sede. E sentir sede é pecado.
Repondo a verdade neste edital de consultas ocasionais, cumpre-me informar que hoje ainda não choveu. A borrasca de que falo, como se a estivesse a sofrer no lombo, já foi ontem. Mas só hoje me fez algum efeito nos neurónios memoriais, desabituados que estão de beber, os mentirosos. E ainda poderá chover, quem sabe, lá mais para o final da tarde, quando este sol metálico se derreter a si próprio e transformar o dia soalheiro em noite de suor ao litro. De embeber, não de beber.
Repondo a verdade neste edital de consultas ocasionais, cumpre-me informar que hoje ainda não choveu. A borrasca de que falo, como se a estivesse a sofrer no lombo, já foi ontem. Mas só hoje me fez algum efeito nos neurónios memoriais, desabituados que estão de beber, os mentirosos. E ainda poderá chover, quem sabe, lá mais para o final da tarde, quando este sol metálico se derreter a si próprio e transformar o dia soalheiro em noite de suor ao litro. De embeber, não de beber.
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