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quarta-feira, 2 de agosto de 2006

DA VELHORRA TRILOGIA À PRODIGIOSA PROGRESSÃO DAS SARÇAS

Ao lado da casa arruinada, como se ainda fizesse tenção de a subtrair à malvadez atmosférica, um abeto. Árvore estrangeira, originária das américas, sem implantação que doa cá pelas nossas bandas. Assim se passasse com tudo o que desses lados aqui vem cair. Não muito longe do primo americano, pinheiros bravos e mansos pintam de verde, por enquanto, toda a cena à volta da casa em ruínas, sendo esta um sinal evidente dos tempos que aí vão, ninguém sabe para onde. Sem telhas, sem portas nem janelas, já lá não mora ninguém desde há anos. Mas vive lá gente―, chame-se-lhe assim. E faz-se lá gente.
Cá fora, à laia de aviso a quem chegue, em todo o pátio térreo que em jovem seria jardim, seringas aos montes, garrafas inteiras e partidas entre mil gumes semeados para pés descalços, um ror de embalagens esventradas de goma de mascar ao deus-dará de quem cuspa de nojo, latas de tudo e de nada, sapatos descambados cuja caminhada por ali se aquietou, papéis esborraçados, trapos descoloridos, e uma ou outra flor silvestre a dar alguma cor ao esterco reinante. E silvas, silvados e silveirões, que progridem dia a dia, hora a hora, enleando e tragando tudo o que se lhes anteponha, seja coisa, seja planta, seja animal, seja gente―, chame-se-lhe assim.
A culpa? A culpa é do abeto, está visto. Não fosse ele oriundo de onde bem se sabe, não tivesse ele transportado atrás de si tudo o que se vê, desde as latas de tudo e de nada àquele monturo de seringas, e por cá tudo bem, tudo em santa conformidade de tempo e espaço, a caminho da noite para ouvir cantar o fado, a caminho do estádio para sofrer da bola com a bola, a caminho de Fátima para comprar uns lotes de éden e até algum milagre em promoção de fim de época.
Abata-se o abeto. Ou abata-se o hábito de importar tudo o que se nos anteponha com origem onde se sabe, seja traste, seja erva, seja bicho, seja gente―, chame-se-lhe assim.